É bem verdade que pausamos nossa viagem. Chegamos em São Paulo dia trinta de janeiro e por aqui ficaremos até dia dez de março aproximadamente. Longe de termos desistido, estamos aqui pois minha irmã se casou e vim celebrar junto com ela essa etapa importante de sua vida, além de ser um dos padrinhos da festança.
Estar de volta à cidade da garoa é, no mínimo, estranho. Me causou sentimentos contraditórios. Entre os encontros alegres com a família e amigos percebi nitidamente, dentro do furacão, que seria mais difícil buscar a vida que almejo acordando todos os dias na cidade cinza. Pequenas atitudes minhas como atravessar o farol com o sinal vermelho fechado para pedestres com a desculpa da pressa na ponta da língua, me mostrou significados enormes. Fiz isso sem perceber mas percebendo se é que você me entende. Mesmo sabendo que a primeira lição que um tradicional paulistano aprende, ainda na barriga da mãe, é que tudo é para ontem, que você precisa correr e fazer muita coisa, que o mais sempre vai ser mais – nem digo só na questão monetária. E isso me deixou pra baixo. É um misto de impotência com tristeza.
Escolhemos viajar porque mais do que uma mudança profissional, gostaríamos de mudarmos como ser humano. Poderíamos fazer isso em São Paulo, porém teríamos que enfrentar esses vícios diários que adquirimos na metrópole. Correríamos o risco dessa mudança acontecer só pela metade ou talvez naufragarmos no meio de uma tempestade.
A parada foi planejada desde o momento que rumamos para Montevideo. Serviu como uma experiência. Não para o caso de que se desistíssemos já teríamos passagem de volta. Isso não estava na pauta. Foi um termômetro. Um momento para avaliar tudo o que vivemos e como vivemos.
Os três primeiros meses nos trouxe a certeza que o caminho escolhido foi certo. Olhando para trás é difícil expressar a alegria que foi conhecer Cabo Polônio e a grandiosidade e infinita beleza da natureza que vive alí. De quebra, ainda ajudamos a salvar a vida de um filhote de leão marinho. Em Montevideo senti o primeiro ônus de minha escolha e fiquei com medo de ter errado. Durou pouco tempo. Ali, depois de uns dez dias, me sentia como se conhecesse a cidade há anos, tamanho o entusiasmo em ir trabalhar no Repique e no Ceprodih e com a convivência bacana com os amigos gringos da Casa Tatu. Ainda no Uruguai conhecemos cidades encantadoras como La Charqueada, Piriápolis, Colonia Sacramenteo e Treinta y Tres. Eta paisinho pacato e gostoso.
As primeiras horas de nossa estadia em Buenos Aires deu para perceber que a capital argentina guardava mais semelhanças com São Paulo do que imaginávamos. Entre socos e pontapés, motoristas brigavam no transito bagunçado da cidade portenha. Mas só foi um momento chato. Sentimos na pele o calor do verão argentino com temperaturas beirando 40 graus, conhecemos a igreja mais famosa do país em Luján, onde o papa Francisco já ministrou diversas missas, nos divertirmos na piscina pública de Cordoba no primeiro dia do ano e enchemos o coração de esperança visitando o Museu do Che em Alta Gracia. Ainda deu tempo de ficarmos horas parados olhando e contemplando a magia dos Andes do belíssimo Parque General San Martin em Mendoza. Fechamos nossa primeira etapa vivendo vinte dias em uma vila sustentável em Tunuyán. Lá aprendemos um pouco mais sobre vida sustentável e percebemos a necessidade de celebrar a vida. No fim, brindamos nosso casamento.
É clichê, mas nem se voltássemos no tempo imaginaríamos tudo isso. E, vai mais um clichê aí, pude perceber na pele o quanto o menos é mais. Que um sorriso, apenas um sorriso, uma brincadeirinha, a presença ao lado, o ouvido amigo, uma foto, uma conversa, um obrigado verdadeiro, um por do sol, a natureza, um dia de trabalho no campo, um dia de trabalho longe do computador pudesse significar tanta coisa boa, junta e misturada que, nesse momento, não existe palavras nesse momento que descreva o que senti nesse últimos noventa e poucos dias.
Como Steve Jobs já nos disse:
“Você não consegue ligar os pontos olhando pra frente; você só consegue ligá-los olhando pra trás.
Então você tem que confiar que os pontos se ligarão algum dia no futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto, destino, vida, carma, o que for. Esta abordagem nunca me desapontou,
e fez toda diferença na minha vida.”
É a vida ensinando.
Dale!
PS: Por essa pausa na viagem postaremos menos no blog. Vamos dedicar a deixar o site e a fan page em ordem. Voltamos jajá 🙂